(Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 03/01/2012)
Por Andrea Matarazzo
Foto Jornal Estadão
Todos os anos São Paulo sofre com enchentes. Porque isso se repete sistematicamente? As enchentes atingem duramente áreas habitadas, levam a população a perder seus bens e a viver situações de risco e de aflição. Portanto, é preciso entender o que causa esse fenômeno e enfrentar uma imensa complexidade de fatores para que se faça política séria neste campo. Quero comentar aqui o que dizem os especialistas sobre a questão.
Temos como herança a ocupação inadequada dos espaços. A cidade invadiu as várzeas que eram tomadas a cada ano pelos rios. Queremos obrigar os rios a se restringir, mesmo em época de chuvas, ao pouco espaço que já ocupam nas secas de inverno. Para piorar, já eliminamos as áreas verdes em que as chuvas poderiam se infiltrar no solo. São inadequados os projetos de drenagem e de implantação de vias – nossas grandes avenidas localizam-se ao longo de rios, comprimindo seu espaço: as Marginais, a Avenida do Estado, a Avenida Aricanduva, para citar alguns exemplos.
Outras tantas se localizam sobre as tubulações nas quais pretendemos encapsular os córregos, como a 23 de Maio, a Sumaré. As águas já não se conformavam com este confinamento. Entulhamos o pouco espaço que ainda reservamos a elas com dejetos de diferentes origens. E aí temos uma questão que abrange o entorno da cidade de São Paulo: alguns municípios rio acima deixam o controle de resíduos e de erosão a desejar.
Resulta daí que o lixo das residências, a sujeira das ruas, a terra erodida que vem de terraplenagens mal feitas, tudo isso contribui para deixar nossos rios e córregos mais lentos. Isso sem falar dos bueiros entupidos com material que nunca deveria ter ido parar nas ruas. Neste caso, a falta de cidadania de quem joga lixo nas ruas e a insuficiência do serviço de manutenção pública só pioram a situação.
Serão necessários muitos esforços, recursos abundantes e a cooperação de todos os setores para eliminar este drama urbano. A cidade deve ter um plano de drenagem muito bem entrosado com o que se fará em cada município cujas águas deságuam aqui. E não podem ser apenas planos de obras: é preciso garantir manutenção, ampliação das áreas verdes, recuperação de córregos que ainda podem ser re-naturalizados. Precisamos proteger cada espaço verde na cidade, recuperar cada córrego ainda não impermeabilizado, estabelecer um programa de ampliação de áreas de que possam receber as águas das chuvas.
Muita coisa tem que ser feita desde já. Não é admissível que haja população morando em locais que sabemos serem de risco e que agravam as cheias. É preciso, ainda, definir projetos de convivência com o regime tropical de chuvas, o que inclui planos de alerta, de emergência e de apoio ao cidadão. Assim como nos países frios as cidades se organizam para garantir segurança nos dias de neve muito intensa, nós precisamos definir como nos organizaremos para conviver com fortes chuvas.
Como se vê, é amplo o leque de ações a serem executadas. Por isso, é preciso governos com fôlego e coragem para realizá-las.